6 de 1 | O lado negro da força

Começou com um pensamento remoto e depressa se viu numa realidade distante. Algo estava errado. Algo despertara dentro dela, muito antes dela se aperceber o que era. 

Nunca viu a depressão como uma doença. Sempre viu a ansiedade como algo que não existia, algo que o ser humano fingia estar a sentir.
A verdade é que ela existia  e que era uma realidade demasiado grande na sociedade em que vivia. A depressão foi uma doença que não lhe afectou apenas a mente, mas sim todo o seu corpo, afectou todo o seu ser, de forma geral. A sua maneira de comer mudou, a sua maneira de sentir alterou-se, a sua forma de pensar e de ver o mundo tornou-se mais negra. A depressão não foi apenas um estado de espírito transitório, não foi apenas um sinal de fraqueza pessoal, nem tão pouco uma condição da qual era poderia sair sozinha. A depressão em si, consumiu-a, consumiu toda a sua esperança, toda a sua coragem e ultrapassá-la sozinha era algo que estava fora do seu alcance. Ela olhava para a depressão como apenas uma angustia no coração, um sofrimento da alma, mas depressa descobriu que a depressão era tão real como uma constipação, e como tal, precisava de ser tratada. 

Depressa se afundou nesta doença, apesar de ter demorado anos a percebe-la. Ficou presa, sem saber o que a prendia. 

Foi na altura que mais precisou da sua sanidade mental que esta a abandonou. A depressão foi o inicio do fim, o inicio de um estado de loucura, o inicio de uma independência perdida. Tudo porque não pediu ajuda mais cedo. Tudo porque conseguiu iludir todos à sua volta.
Desarrumou todas as suas gavetas cerebrais, gavetas estas que guardavam sentimentos, memórias e tabus. Viu-se sentada num chão frio e sem fim, com inúmeros papeis em seu redor, papeis esses que lhe levaram anos a arrumar. Que seria dela, agora, ter de arrumar tudo aquilo outra vez? Não queria. Deixou-se estar. A sua realidade tornou-se mais distante da do ser alheio, a sua mente parou e inundou-a de medos e monstros. Foi aqui que ela tentou ganhar coragem para acabar com todo o sofrimento, para acabar com toda a sua vida. De que adiantava viver, se era tudo a preto e cinzento? De que adiantava falar se ninguém iria acreditar nas vozes que ouvia, nos monstros com quem convivia, no outro ser que dela se apoderava? Tentou. Sem sucesso.

Perdida, sem saber onde ficava o passado, o presente e o futuro, deixou entrar, sem saber como, uma ajuda. A ajuda entrou e assustou-se com o que viu. Sentou-se no chão com ela, falou com os seus tormentos e começou a arrumar as suas gavetas. Uma por uma. Até hoje.

Hoje, ela é feliz. Continua a arrumar gavetas, com a ajuda, mas já mandou embora os seus tormentos, à espera de viver a vida que ainda tem pela frente, de braços abertos e olhos fechados, com poucos medos, porque sabe que não está sozinha, e que a ajuda vai estar lá, caso necessite dela novamente.

"Surto Psicótico - É um afastamento da realidade em que está inserido de forma breve ou contínua, isolada ou frequente."

 

Banda sonora: Rise Against - Wait for me

Um beijinho,

Cláu.